Governança, Transparência e o Risco da Acomodação Política em Moçambique
O dilema entre nomeações políticas por mérito e aquelas motivadas por interesses partidários não é um problema exclusivo de Moçambique, mas ganha contornos particulares no nosso contexto. A recente nomeação de Daniel Chapo para a presidência da Assembleia da República levanta questionamentos sobre o real critério para a escolha dos líderes no país. Será que os nomeados são escolhidos pela sua competência e capacidade de produzir resultados concretos para a população? Ou apenas para manter o equilíbrio de poder dentro do partido no poder?
Olhando para o panorama político moçambicano, percebe-se uma tendência preocupante de governantes que ascendem a cargos de destaque sem uma avaliação rigorosa do seu desempenho anterior. Em vez de se exigir resultados mensuráveis, muitas vezes os critérios parecem estar mais alinhados à fidelidade partidária do que à eficiência administrativa. Essa prática perpetua ciclos de acomodação e ineficiência, resultando em instituições enfraquecidas e na estagnação do desenvolvimento do país.
Essa falta de escrutínio não é um problema exclusivo de Moçambique. Nos Estados Unidos, por exemplo, recentemente houve uma tentativa de auditoria liderada por Elon Musk e o Departamento de Eficiência Governamental (DOGE), ordenada pelo ex-presidente Donald Trump. O objetivo era examinar os gastos do Pentágono, uma instituição que há décadas dribla auditorias detalhadas apesar de movimentar trilhões de dólares dos contribuintes. O fato de que foram identificadas irregularidades absurdas, como pessoas supostamente recebendo aposentadoria aos 150 anos de idade, mostra o quão profundo pode ser o problema da corrupção e da ineficiência na gestão pública.
Embora a realidade moçambicana seja diferente da norte-americana, a necessidade de transparência e prestação de contas é um princípio universal. O que impede que o país implemente mecanismos rigorosos de auditoria e avaliação de desempenho de seus dirigentes? Será que as nomeações políticas continuarão sendo apenas uma ferramenta de manutenção do poder, sem compromisso com a eficácia da administração pública?
Se a lógica da acomodação persistir, o descontentamento popular se tornará cada vez mais evidente. O perigo desse cenário é que, ao invés de se discutir reformas estruturais e fortalecer as instituições, a insatisfação poderá ser reduzida a rótulos, taxando aqueles que criticam o sistema como "desmotivados" ou "descontentes". É um discurso que silencia vozes dissonantes e evita o debate essencial sobre governança.
A resposta para esse impasse não é a mera rotatividade de rostos no poder, mas a criação de uma cultura política baseada em competência, transparência e compromisso com o desenvolvimento nacional. O país precisa de líderes que se inspirem em boas práticas e que sejam cobrados por resultados reais, e não apenas de gestores que perpetuem um sistema estagnado. Se continuarmos a ignorar esse problema, podemos acabar em uma situação onde, diante da ausência de alternativas viáveis, figuras carismáticas e populistas se tornem a única esperança de mudança, não por suas propostas, mas pela simples frustração do povo com o status quo.
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